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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Rosas de novembro


Aguda desarmonia na minha rua:
Não ouço mais o alegre bom-dia
Da simpática velhinha ao portão.

Um abandono sem cerimônia
No silêncio da porta fechada
Daquela casinha sobrevivente
Entre os prédios de luxo...

No jardim sempre cuidado,
Apenas galhos decapitados, vazios:
As rosas vermelhas fugiram às pressas,
Na madrugada de domingo:

Não suportaram a ausência
Da risada daquela amiga
Que partira sem avisar...
Sem ao menos um abraço de adeus.



Maria Nazaré de C. Laroca

Juiz de Fora, 30 de novembro de 2012.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Impressões



"Quero o inapreensível. É espantosa essa luz que escapa, levando a cor consigo. (Claude Monet )



Indiferente ao feérico
Salão brutalmente iluminado
Do shopping do Leblon,

Uma quase luz de chuva
Envolve toda a Lagoa
Em véus de névoa plúmbea.

Quisera ter o gênio de Monet
E  capturar  assim
A inapreensível  cor adormecida
No mistério desse último
Domingo de novembro no Rio.


Maria Nazaré de C. Laroca
Rio, 25 de novembro de 2012.



sábado, 17 de novembro de 2012

Rapsódia matinal


    

"O homem é uma corda distendida entre o animal e o super-homem: uma corda sobre um abismo; travessia perigosa (...)." Friedrich Nietzsche

A menina de cinco anos
balança sua alegria
na corda atada
nos galhos da mangueira.

Ela não suspeita
de outra corda:
a mulher de cinquenta
que desafia o abismo.

A menina está feliz
com a inocência
de seu instante;
no entanto desconfia
desse abismo de plumas
de temível doçura...

Então fia e desfia
a seda do rio do tempo
que retorna sempre...

A mulher de cinquenta
atravessa o espelho
e dialoga com o caos.

Ela quer provar o saber
e o sabor de todos
os homens e mulheres,
mas consegue beber
o olho azul do dia
na taça que transborda
esse sol de inverno...

Maria Nazaré de C. Laroca
In: Travessia do poema. Juiz de Fora: FUNALFA; Campinas:Pontes Editores, MG.2012. p.19

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Lua do Leblon








Muitas luas já vivi ...

Lua barroca de Minas,

Hóstia de luz elevada

Sobre o silêncio beato

Dos telhados das igrejas

De Ouro Preto e Mariana ...



A lua fria de Manhattan

Vai pingando solidão

Nos braços da Liberdade ...



Mas essa lua vermelha

Que contemplo de joelhos

Do Mirante do Leblon:



Lua vestida de ouro,

Nua, despida em fogo,

Paixão suspensa, fetiche ...



Essa lua equilibrista,

Balão chinês que enfeitiça,

É como um orgasmo do sol:

Incêndio num mar dourado!



Maria Nazaré de C. Laroca

IN: Travessia do Poema.Juiz de Fora: FUNALFA; Campinas:Pontes Editores. 2012, p. 4
7.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Subúrbio





Lá na esquina dos meus sonhos,

Resta um portão companheiro

De um alegre manacá

Que cheira ao tempo de espera

Do namorado primeiro.



Maria Nazaré de C. Laroca

Juiz de Fora, 05 de novembro de 2012.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Descoberta / Malkovro




Descoberta


A Carlos Drummond de Andrade

Com a doçura das coisas não compradas,                                            
De repente a água
 No corpo da rocha fez morada
E abrigo de sonhos
Em gestação antiga e só.

No seio de cada pedra
Pétala de rosa surpreendida
Misteriosamente  cotidiana.





Maria Nazaré C. Laroca
In: Sem cerimônia, 2ª ed. Juiz de Fora -MG, 2000. p. 30


Malkovro

Al Carlos Drummond de Andrade

Tiel kiel mildas  ĉio senpaga,
Subite  akvo
Ekloĝis en  roko,
Ŝirmejo plenreva
De longe solgravede.


En la brusto de ĉiu ŝtono
Neatendita rozpetalo:
Tute ĉiutaga  mistero.




Maria Nazaré C. Laroca
Juiz de Fora - 17 /10/2012








terça-feira, 30 de outubro de 2012

Carta de Drummond



Em 1974 enviei um poema para Drummond, e ele me respondeu com muita gentileza. A carta do poeta dizia assim:


 Rio, 8 de julho de 1974.


      Obrigado, amiga Nazaré, pelo breve e essencial poema que me enviou e que tem, igualmente, “a doçura das coisas não compradas”.
      O abraço afetuoso e admiração de

                 Carlos Drummond





    Descoberta
                           A Carlos Drummond de Andrade

Com a doçura das coisas não compradas,                                            
De repente a água
No corpo da rocha fez morada
E abrigo de sonhos
Em gestação antiga e só.

No seio de cada pedra,
Pétala de rosa surpreendida
Misteriosamente  cotidiana.


Maria Nazaré  de C. Laroca

In: Sem cerimônia, 2ª ed. Juiz de Fora - MG, 2000. p. 30