quinta-feira, 13 de março de 2014

Mercearia da Mercedes





Que laços enlaçam o deus romano Mercúrio, o mercado e você?

Saio da teia prática da sincronia lexical e mergulho no misterioso túnel diacrônico cavado pela Filologia. A viagem surpreende a cada curva semântica. Primeiro encontro o céu do latim merere (merecer) e quase ouço um canto gregoriano ao fundo...

Não sei se tenho mérito para merecer este encanto, mas o fato é que a raiz mer(c) se destaca como uma borboleta sem cerimônia e convida-me a conhecer um pouco da família cognata. E, apressando-se, ela se une ao prefixo com- e então se projetam, no cenário da memória, imagens de comércio, comerciante, comercial, mercado, mercearia, mercador... campo semântico regido por Mercúrio, deus do comércio e da comunicação. 

E eis que, gentil, surge Mercedes, nobre nome que não fica à mercê dos mercenários que pululam na arena da mediocridade mercantil. Então lhe agradeço num galanteio francês: merci, Mercedes!

Agora pergunto ao meu eventual leitor: e vossa mercê? Perdão, e vosmecê, e você? 

Você sou eu, somos nós. Precisamos desse intercâmbio civilizatório. O espírito merece uma boa merenda recheada de cultura e arte. Afinal somos todos Mercedes.

Maria Nazaré Laroca


Guarulhos, 13/03/2014.

5 comentários:

  1. Tre interesa kunligado de sonoj-signifoj. La muziko de la vortoj... Vi komponis etan kanzonon, Poeto!

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  2. Nazaré, vi fosis funde kaj trovis vortojn kiuj florigas poeme.
    Kore,

    Passini

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  3. No Nordeste esse texto serviria de mote para os mais hábeis repentistas, minha cara poeta.
    E no ir e vir do comercio das vidas que se sucedem, eu saúdo a sua Mercedes na língua cigana: Opcha, moça!

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  4. Deliciosa crônica com sabor de poesia. Isto quanto à linguagem. Mas, sustentando o tema, a pesquisa, o estudo etimológico servindo diacronia com requintes de um gurmê (ou gourmet, se preferem). Portugale komentita, ĉar portugale verkita. Parabéns.

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