Textos em português e esperanto. Tekstoj en la portugala kaj en Esperanto.

Obrigada por sua visita! Dankon pro via vizito!

Mostrando postagens com marcador Prosa em português e Esperanto. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Prosa em português e Esperanto. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Pequena árvore _ Malgranda arbo




Pequena árvore

Era uma árvore pequena, quase um arbusto, mas tinha a vantagem de voar quando pensava em asas. Os pássaros confidenciavam-lhe os segredos trazidos pelo vento. Entregava-se aos raios de sol com doçura, e os ramos logo teciam uma sombra para proteger as crianças e os cães que brincavam na praça.

Também bebia luares em taças que a noite servia em festas de solidão povoada de estrelas silenciosas.

Um dia descobriu a fragilidade de seu tronco; a casca estava ficando cada vez mais fina, e sentiu medo.  Então fechou os olhos; e a pequena águia alçou voo. 

Malgranda arbo

Ĝi estis malgranda arbo, kvazaŭa arbusto, sed ĝi kapablis  flugi tiam,  kiam  ĝi pensis pri flugiloj. Birdoj konfidis al ĝi la sekretojn alportitajn  de  vento.  

La arbeto  ĝuis  la sunradiojn kun dolĉeco, kaj la branĉoj tuj teksis ombron por protekti infanojn kaj hundojn ludantajn sur la placo.
Ĝi ankaŭ trinkis lunlumojn en kalikoj, kiujn la nokto servis dum solecaj festoj  plenaj de silentaj steloj.

Unu tagon ĝi malkovris la malfortikecon de sia trunko;  la ŝelo maldensiĝis pli kaj pli  kaj ĝi sentis timon.  Do ĝi  fermis la okulojn; kaj la eta aglo ekflugis.

Maria Nazaré Laroca
Juiz de Fora, 08/09/2014.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Santo Antônio _ Sankta Antono


Santo Antônio
Santo Antônio é o padroeiro da minha cidade, Juiz de Fora. No dia 13 de junho, feriado municipal dedicado a ele, o santo sai da igreja para receber as homenagens e pedidos dos devotos e pecadores. Muitas mulheres desejam casar-se e rezam por sua milagrosa intervenção. Dizem que ele ajuda também a encontrarem-se objetos perdidos. 
Hoje tirei uma foto da estátua de Santo Antônio, e pareceu-me que ele sorriu para mim com simpatia.
Por que não?!


Sankta Antono 
Sankta Antono estas la patrono de mia urbo, Ĵuiz-de-Foro. La 13-an de Junio, urba feritago al li dediĉita, la sanktulo foriras el la preĝejo por akcepti la omaĝojn kaj petojn de la piuloj kaj pekuloj. Multaj virinoj deziras edziniĝi kaj preĝas por lia mirakla helpo. Oni diras, ke li estas ankaŭ helpanto en la retrovado de perditaj objektoj.
Hodiaŭ mi fotis la statuon de Sankta Antono kaj ŝajnis, ke ĝi simpatie ekridetas al mi. 
Kial ne?! 


Maria Nazaré Laroca
Juiz de Fora, 13/06/2014
.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Um cão nos funerais _ Hundo ĉe funebraĵoj

                                       
                                               André Luís e José Jorge, meu pai.



Um cão nos funerais



Despedidas doem, mesmo tendo-se a certeza do reencontro. O poeta Fernando Pessoa já disse que a morte é a curva da estrada, / morrer é só não ser visto. Pois é, pai, o senhor vestiu a capa da invisibilidade e partiu.

E ontem foi tudo tão triste e tão bonito! Um esboço de sorriso na sua face sinalizava a paz encontrada na passagem para a luz. O senhor parecia meditar com discreta serenidade depois do sofrimento imposto pelos aparelhos do CTI.

O senhor deve ter estranhado ver tantos jovens prestar-lhe a última homenagem, levando-lhe rosas graças a seu neto André Luís, educador amado. Até mesmo a UFJF enviou-lhe uma coroa de flores...

E a mais emocionante condolência foi o entusiasmo daquele cãozinho preto-e-branco que dormia no pátio. De repente, acordou na hora da partida do féretro. E disparou sua alegria, acompanhando aos saltos a subida daquela triste aleia. Foi então que minha irmã lembrou que o senhor, quando menino, tinha um cachorrinho chamado Sabiá. Menino tem cada uma, não é? Talvez fosse o elo que faltava: as asas da alegria da infância apontando outra maior, a volta para a casa.



Hundo ĉe la funebraĵoj


Adiaŭoj doloras, eĉ kiam ni certas pri la nova renkonto. La poeto Fernando Pessoa jam diris, ke la morto estas la kurbo de l’ vojo , / morto estas nur nevidebleco. Nu, paĉjo, vi surmetis la nevidebleco-mantelon kaj foriris.

Kaj hieraŭ estis ĉio tiel trista kaj tiel bela! Via vizaĝo ŝajnis rideti pro la paco ekhavita dum la trairado tra la lumo. Ŝajnis, ke vi meditadis kun diskreta sereneco post la suferado postulita de la hospitalaj aparatoj.

Vi eble estis surprizita vidi tiom da gejunuloj ofertantaj al vi rozojn kiel lasta omaĝo danke al via nepo André Luís, amata edukisto. Eĉ la Universitato sendis al vi florkronon.

Kaj la plej emocia kondolenco venis el entuziasmo de tiu nigrablanka hundo, kiu dormadis sur la korto. Subite la hundeto vekiĝis ĝuste tiam, kiam la ĉerko ekforiradis. Kaj ĝi ekpafadis sian ĝojon; saltetante ĝi akompanis la supreniron de la irantaro laŭ tiu malgaja aleo. Do mia fratino memorigis al mi, ke dum via infanaĝo vi posedis hundeton nomatan Turdo. Kia knabeca nomo por hundo, ĉu ne ? Eble tio estis la manka ligilo, nome: la flugiloj de l’ infaneca ĝojo indikantaj alian plej grandan: la hejmrevenon.


Maria Nazaré Laroca

Juiz de Fora, 15/04/2014
.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Um outro olhar _ Alia rigardo





Um outro olhar

Como num balé contemporâneo.  Nesta manhã de sábado, um pedreiro desfaz um grande monte de areia, levando a pá à betoneira  repetidas mil vezes... Concentração  quase irreal. Em compaixão solidária, pensei: tanto trabalho ... e comentei com o motorista do ônibus em que estava.
E ele: nada... é assim mesmo... a gente se acostuma com trabalho duro. Até terça não se verá nem um grão de areia...
E o meu olhar afobado pensava que o jovem  tinha de dar conta de tudo apenas nesta manhã de sábado... 
Muitas vezes o ponto de vista do outro abre uma janela em nossa alma.

Alia rigardo

Kiel ĉe nuntempa baleto. En ĉi tiu sabata mateno, masonisto  malfaradis grandan monton  da sablo rekondukante milfoje al la beton-miksilo  la ŝovelilon per koncentriĝo preskaŭ nereala. Mi solidare kompatis: tiom da laboro ...  mi pensis kaj tuj tion diris al la ŝoforo de l’ buso, kie mi estis.
Kaj li respondis: tio estas nenio ... ĉiukaze ni kutimiĝas al la harda laboro. Ĝis la venonta mardo oni ne vidos eĉ sableron ... 
Kaj mia hasta rigardo pensadis, ke la junulo devas plenumi  la tutan aferon nur ĉimatenan sabaton ... 
Multfoje alies vidpunkto malfermas fenestron en nia animo.


Maria Nazaré Laroca
Juiz de Fora, 22/02/2014.


quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Gratidão _ Dankemo







Crônica do cotidiano

Caminhando devagar, eu subia a avenida com duas sacolas pesadas. De repente, um carro de luxo estaciona. Um garoto logo salta, olha para mim e pergunta com naturalidade:
- Posso ajudar?
- Não, obrigada! - sorri surpresa.
A mãe do menino cumprimentou-me com o olhar discreto e afagou a cabeça do filho.
Continuei a caminhada pensando nas sementes de gentileza que costumam brotar na primavera da vida.

 Ĉiutaga kroniko

Malrapide, mi marŝadis sur la avenuo kun du pezaj mansakoj. Subite, venis luksa aŭto kaj parkis apude. Knabo tuj saltas, min ekrigardas kaj demandas spontaneece:
- Ĉu mi povas vin helpi?
- Ne, dankon! - mi ridetis surprizite.
La patrino de  l' knabo salutis min per diskreta rigardo kaj karesis la kapon de la filo.
Mi plue marŝis pensante pri la semoj de afableco, kiuj fojfoje ekburĝonas dum la printempo de l' vivo.

Maria Nazaré de C. Laroca
Juiz de Fora, 31/10/2013.



sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O casal _ La geedzoj








O casal


A vizinha emocionava-se sempre que via os dois de mãos dadas, assistindo à sessão da tarde na TV. Tinham o estranho hábito de deixar a porta da sala aberta; talvez para expor a felicidade que já durava quarenta anos. E a vizinha suspirava com admiração e uma pontinha de inveja.
Um dia ele adoeceu: tumor no cérebro. E a porta da sala se fechou. O condomínio consternado foi ao funeral daquele marido apaixonado.
Passado o luto, a vizinha, preocupada com a dor da viúva, fez-lhe uma visita de cortesia:
- Imagino como deve ser difícil sua vida assim agora...sem ele... Como eu gostava de ver o dois de mãos dadas, sentadinhos, vendo TV! ...
Como um raio, a velha senhora reagiu quase gritando:
- Pois saiba que eu odiava, o-di-a-va aquilo tudo! Eu gosto é de rua! De vida, de dança, de alegria! 
Agora estou livre! Liberta, entendeu?

La geedzoj


La najbarino emociiĝis, ĉiam kiam ŝi vidis la geedzan paron sur la sofo, mano en mano, spektantan la posttagmezan televidprogramon. 
Ili havis la strangan kutimon lasi la pordon malfermita, eble por elmontri la feliĉon, kiu jam daŭris kvardek jarojn. Kaj la najbarino suspiris kun admiro kaj ia envieto.
Unu tagon li malsaniĝis pro maligna cerba tumoro. Kaj la pordo de la salono tute fermiĝis. La najbaroj estis konsternitaj kaj funebris tiun enamiĝintan edzon.
Post funebra semajno, la najbarino, maltrankviligita de la doloro de la vidvino, decidis ŝin viziti:
- Mi povas imagi, kiel malfacila devas esti via vivo nun... sen li ... Fakte mi tre ŝatis rigardi vin, feliĉaj, mano en mano, antaŭ la televidilo...
Kiel fulmo, la sinjorino respondis preskaŭ kriante:
- Nu, sciu, ke mi ade malamegis la aferon, malamegis ĉion! Al mi plaĉas la eksterdoma vivo! Dancadon, ĝojon! Nun mi estas libera! Liberigita, ĉu vi komprenas? 

Maria Nazaré de C. Laroca
Juiz de Fora, 18/10/2013


quinta-feira, 23 de maio de 2013

Meu pai _ La patro




Meu pai

Incansável polifonia. O lamento nasalado do trem atravessa a solidão da madrugada em contraponto com o galopar da chuva sobre o frio outono de Juiz de Fora.
Respiro baixinho ao lado da cama de meu pai doente que pode acordar a qualquer momento. O tempo não dorme. Nem eu. De repente, a lembrança das tardes adolescentes de cinema.
Meu pai de terno branco; elegância perfumada. Meu pai tão grande, eu tão pequena. Descíamos a Rua Halfeld para a sessão de cinema todo sábado. Muito faroeste, comédias, musicais... E no túnel dos anos 60, revejo a imagem loura de Kim Novak. Desfilam-me na mente algumas cenas do filme Um corpo que cai (de Alfred Hitchcock),  a que assistimos juntos. Foi quando o cinema entrou de vez em minha vida e dela nunca mais saiu.
Meu pai, um gigante adormecido que passa o dia acordado no jardim de infância doméstico. E eu, aqui, pequenina e frágil, cuidando dele, e pensando em cinema. Mas um poema se enrosca como um gato e me espreita no quarto à meia luz.  O filme do agora continua.


La patro

Senlaca polifonio. La nazsona lamento de trajno transiras la solecon de la postnoktomezo kontraste al la  galopa pluvo  sur la fridan aŭtunon de Juiz de Fora.  
Mi spiras mallaŭte apud la lito de la malsana patro, kiu povas vekiĝi iam ajn. Kaj mi kaj la tempo ne dormas. Subite, jen la rememoro el la adoleskaj matineaj filmoj.
La patro sub blanka kostumo; parfumita eleganteco. Li tiel granda viro kaj mi tiel eta knabino. Ni malsupreniris sur la Strato Halfeld por spekti filmojn ĉiusabate: multajn usonajn vakerfilmojn, komediojn, muzikaĵojn...
Kaj el la tunelo de la jaroj 60, mi revidas la blondan bildon de Kim Novak. Paradas antaŭ mia menso  scenoj de la filmo Vertiĝo (direktita de Alfred Hitchcock), kiun ni spektis kune. Tiam do kinoarto porĉiame eniris  en mian vivon kaj neniam foriris.
Mia patro, dormanta giganto, kiu pasigas la maldormajn tagojn en la hejma infanĝardeno. Kaj jen mi eta kaj malfortika, zorgante pri li kaj pensante pri kinoarto. Sed poemo rondkuŝiĝas kiel kato kaj min spionas en la duonluma ĉambro. La prinuna filmo daŭrigotas.


Maria Nazaré de C. Laroca
Juiz de Fora, 23/05/2013

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Confidências _ Konfidencoj


 Confidências

É preciso desarmar o olho e permitir-se a entrega com simplicidade. Ainda que momentânea.
No início dos anos 70, meus ouvidos emudeceram, ante o pulsar do coração de Deus no seio da Floresta Amazônica. Apenas eventual farfalhar de cores aladas transpassava aquele silêncio sagrado. Uma lágrima de alegria selou o meu jovem instante de adoração.
Dez anos depois, na hora do parto, a sensação de pertencimento divino e telúrico ao mesmo tempo: o choro de meus filhos preludiando a vida.
Recorto ainda aquela madrugada de verão em Veneza, em 1990. Dezenas de jovens dormiam nas escadarias da estação de trem, em doce liberdade de entrega ao mistério do amanhecer veneziano. Meus olhos então começaram a ouvir uma melodia de gratidão à vida.

Konfidencoj

Necesas malarmi la okulojn kaj sin fordoni al la simpleco. Kvankam dummomente.
En la frua 70, miaj oreloj silentiĝis, antaŭ la korbatado de Dio en la Amazona Pluvarbaro.  Nur hazarda susuro de flugilhavaj koloroj ektrapenetris tian sanktan silenton. Ĝoja larmo stampis mian junan adormomenton.
Dek jarojn poste, dum la akuŝoj, la sento de la dia kaj samtempe elterula aparteno: la ekploroj de miaj infanoj enkondukantaj  vivon.
Mi ankoraŭ eltondas tiun someran matenon, en Venecio, 1990. Dekoj da junuloj dormadis sur la ŝtuparo de la fervoja stacidomo en dolĉlibera fordono  al la mistero de la venecia mateniĝo. Miaj okuloj do ekaŭdis dankantan melodion al  vivo.

Maria Nazaré de C. Laroca
Juiz de Fora, 24/02/2013

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Conversa pra joelho dormir / Parolado por endormigi genuojn


Conversa pra joelho dormir

Oh, meus joelhos! Condição imprescindível da minha  verticalidade flexível ...
Às vezes indecisos, ajoelhados; às vezes corajosos, circunflexos, enlaçados com outros joelhos em entrelaço de amor...
Oh, meus joelhos! Tenho um amigo que os considera belos e sensuais... E eu até gosto disso...
Nus, bronzeados, expostos, movem-se inteligentes na aridez da floresta urbana: em elevadores, bancos, cinemas, universidades e shoppings...
Oh,  pobres joelhos, feridos, fora de combate... Agora repousam em gelo de dor e dormem sob o sol de inverno, sonhando com  tempos de dança, em ritmo de alegria.

                      (Maria Nazaré de Carvalho Laroca    Juiz de Fora  - 2003)


Parolado por endormigi genuojn

Ho, miaj genuoj! Nemalhaveblaj iloj de mia  fleksebla vertikalkondiĉo...
Kelkfoje nedecidemaj, genufleksaj; kelkfoje kuraĝaj, cirkunfleksaj, kun aliaj genuoj interplektitaj en ĉirkaŭpremo de amo...
Ho, miaj genuoj! Mi havas amikon kiu ilin konsideras belaj kaj voluptemaj... Kaj eĉ mi tion ŝatas...
Nudaj genuoj sunbrunigitaj, ekspoziciitaj, moviĝas inteligente tra la troseka arbaro 
urba: en liftoj, bankoj, kinejoj, universitatoj kaj komercaj centroj...
Ho,  povraj, vunditaj genuoj... eksterbatale. Ili ripozas nun sub glacia doloro kaj dormas  vintrosune, revante pri la dancotempoj, ĝojritme...
   

                      (Maria Nazaré de Carvalho Laroca    Juiz de Fora  - 2003)