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segunda-feira, 17 de março de 2014

Singeleza _ Simpleco


                                                                    Non ducor, duco.  
                                                                                     
Dócil, na metrópole,
deixo-me conduzir
por São Paulo, cujo
lema trombeteia
com orgulho:

“Não sou
conduzido,
conduzo.”

Megacidade
de mil e uma
faces tantas,
que sequer espanta
o sossego dessa rua
onde moram árvores
e pessoas amáveis.

Então começo logo
uma amizade discreta
com o cãozinho Sol.

Pelos cor de mel,
doce olhar ingênuo
e uma lambida
de bom-dia,
antes de adormecer
assim de repente
sem pedir licença.

E ele sonha com uma sombra
num quintal, entre bananeiras,
de uma casinha  qualquer
nas montanhas mineiras.




Simpleco

Volonte ĉe l’ metropol’
esti gvidata mi permesas
de San-Paŭlo, kies
devizo kun fier’ ekkrias:  
"Mi ne kondukatas,
kondukas mi.”

Urbego de mil unu
multaj vizaĝoj,
ke nin eĉ ne mirigas
la kvieteco de ĉi strato,
kie vivas arboj
kaj afablaj homoj.

Do mi tuj ekamikiĝas,
per diskrete amikeco,
kun Suno, la hundeto.

Mielkolora hararo,
mildnaiva rigardo,
kaj leksaluto
antaŭ ol  ekdormi
tiel neatendite,
sen peti permeson.

Kaj li sonĝas pri ombr’ nun
En korto, inter bananujoj,
de ia domet’ ĉe montar’
de l' ŝtato Minas-Ĵerajs'.


Maria Nazaré Laroca

Juiz de Fora, 17/03/2014.

domingo, 16 de março de 2014

Mudanças _ Ŝanĝoj



Mudanças

Em poucas horas,
desmontamos
um pequeno 
apartamento.

Empacotamos tudo:
sonhos, dores, momentos
de riso e amargura.

As mudanças
são o fio do tecido
da vida.

Mas, rumo às estrelas,
eis o desafio:
desfazer os nós 
dos porões cegos
de nós mesmos.


Ŝanĝoj 

Dum kelkaj horoj
etan apartamento
ni malmuntas.

Ni ĉion enpakas:
revojn, dolorojn
kaj momentojn
el rido kaj ĉagreno.

Shanĝoj  estas
la fadenoj
de l' teksaĵo
de l' vivo.

Sed, survoje al steloj,
jen nia defio:
malnodi
la blindajn keloj
en ni mem.

Maria Nazaré Laroca
San-Paŭlo, 16/03/2014.




quinta-feira, 13 de março de 2014

Mercearia da Mercedes





Que laços enlaçam o deus romano Mercúrio, o mercado e você?

Saio da teia prática da sincronia lexical e mergulho no misterioso túnel diacrônico cavado pela Filologia. A viagem surpreende a cada curva semântica. Primeiro encontro o céu do latim merere (merecer) e quase ouço um canto gregoriano ao fundo...

Não sei se tenho mérito para merecer este encanto, mas o fato é que a raiz mer(c) se destaca como uma borboleta sem cerimônia e convida-me a conhecer um pouco da família cognata. E, apressando-se, ela se une ao prefixo com- e então se projetam, no cenário da memória, imagens de comércio, comerciante, comercial, mercado, mercearia, mercador... campo semântico regido por Mercúrio, deus do comércio e da comunicação. 

E eis que, gentil, surge Mercedes, nobre nome que não fica à mercê dos mercenários que pululam na arena da mediocridade mercantil. Então lhe agradeço num galanteio francês: merci, Mercedes!

Agora pergunto ao meu eventual leitor: e vossa mercê? Perdão, e vosmecê, e você? 

Você sou eu, somos nós. Precisamos desse intercâmbio civilizatório. O espírito merece uma boa merenda recheada de cultura e arte. Afinal somos todos Mercedes.

Maria Nazaré Laroca


Guarulhos, 13/03/2014.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Num café _ Ĉe kafejo








Cada pessoa é uma ilha 


de solidão inacabada;

e a rua é um rio de ruídos

que atropelam os ossos do dia...

Busco refúgio num café

elegante da minha cidade.



Lá violinos me recebem 

com ternura e seduzem

um tango em doce fúria; 

então desdobro um papel 

que a poesia queima,

para gravar este poema.



Ĉe kafejo

Ĉiu persono estas insul’
el nefinita soleco;
kaj  strat’  estas river’ de l’ bruo
kiu ruze batpuŝas
la ostojn de l’ tago ...
Mi serĉas rifuĝon en kafejo
eleganta de mia urbo.

Tie tenere akceptas min violonoj
kaj allogas tangon
per dolĉa furiozec’;
tiam disfaldas mi paperon,
kiun poezi’ bruligas,
por skribi ĉi poemon.



Maria Nazaré Laroca

Juiz de Fora, 08/03/2014.








segunda-feira, 3 de março de 2014

Blandícia



                                                    Para Camilo
                                                                              Artífice do Amor, 
nos mistérios da vida,
o frio cinzel da Dor
esculpe a Felicidade 
da alma ‘inda adormecida 
na mente do Criador. 
                                              
Maria Nazaré Laroca

Juiz de Fora, 03/03/2014.


sábado, 22 de fevereiro de 2014

Um outro olhar _ Alia rigardo





Um outro olhar

Como num balé contemporâneo.  Nesta manhã de sábado, um pedreiro desfaz um grande monte de areia, levando a pá à betoneira  repetidas mil vezes... Concentração  quase irreal. Em compaixão solidária, pensei: tanto trabalho ... e comentei com o motorista do ônibus em que estava.
E ele: nada... é assim mesmo... a gente se acostuma com trabalho duro. Até terça não se verá nem um grão de areia...
E o meu olhar afobado pensava que o jovem  tinha de dar conta de tudo apenas nesta manhã de sábado... 
Muitas vezes o ponto de vista do outro abre uma janela em nossa alma.

Alia rigardo

Kiel ĉe nuntempa baleto. En ĉi tiu sabata mateno, masonisto  malfaradis grandan monton  da sablo rekondukante milfoje al la beton-miksilo  la ŝovelilon per koncentriĝo preskaŭ nereala. Mi solidare kompatis: tiom da laboro ...  mi pensis kaj tuj tion diris al la ŝoforo de l’ buso, kie mi estis.
Kaj li respondis: tio estas nenio ... ĉiukaze ni kutimiĝas al la harda laboro. Ĝis la venonta mardo oni ne vidos eĉ sableron ... 
Kaj mia hasta rigardo pensadis, ke la junulo devas plenumi  la tutan aferon nur ĉimatenan sabaton ... 
Multfoje alies vidpunkto malfermas fenestron en nia animo.


Maria Nazaré Laroca
Juiz de Fora, 22/02/2014.


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Desejo




Falta da infância
e da mocidade
que nunca vivi.

Falta do perfume
dos crepúsculos,
e do leite que escorre
dos seios da lua,
e que nunca bebi.

Falta do grito
das auroras
sem pudores.

Falta da falta
que faz falta.
Falta assim:
falta de mim.

Maria Nazaré Laroca
Juiz de Fora, 20/02/2014.






sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Lua de verão _ Somera luno





Lua de verão

A lua desabrocha
em volúpia de luz
e resplende o seio
maduro à mostra,
na seda dos anseios
e silentes desejos.




Somera luno

La luno ekfloras
per volupta lumo
kaj  la mam’ trembrilas
je montro matura 
en aspiraj  silkoj
kaj mutaj deziroj.

Maria Nazaré Laroca
Juiz de Fora, 14/02/2014.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Sombra _ Ombro




Sombra

Não existe
nada mais refrescante
do que a sombra de uma árvore
sob o sol de verão.


Enquanto isso,
a sombra do homem
existe  apenas
para acompanhar-lhe
a solidão.




Ombro

Nenio pli refreŝigas 
ol la ombro de l' arbo 
sub la somera suno. 

Dum tio, 
la  ombro 
de l' homo
vivas nur
por akompani  
lian solecon.

Maria Nazaré Laroca
Juiz de Fora, 13/02/2014.





sábado, 8 de fevereiro de 2014

The Beatles



The Beatles

Ao ver hoje na tevê
uma reportagem
sobre a estreia
dos Beatles nos UEA,

Um raio adolescente
rasgou meu coração,
e viajei nas lágrimas
de um inesperado
pranto de 50 anos  
de indefinida saudade.


http://www.youtube.com/watch?v=ipADNlW7yBM

The Beatles

Raporton pri l’ debut’
de The Beatles ĉe Uson’,
per televidprogram’
mi spektis hodiaŭ.

Do adoleska radi’
fulme disŝiris
la koron mian,
kaj mi forflugis
per larmado
el  neatenditaj
kvindek  jaroj 
da nedifinebla sopir'.

Maria Nazaré Laroca
Juiz de Fora, 08/02/2014.


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Doçura _ Mildeco




Doçura

Dentro do olho
ressoa o espelho
da terra seca
de minh’ alma.

Então se acalmam
o ferro e o fogo
do silêncio incauto

que gera palavras
e pedras mais doces
que borboletas  em voo.

Mildeco

Ene de l’ okul’

la spegul’ resonas

de la seka tero  

de l’ animo.  


Kvietiĝas do

la fer’ kaj la fajr’  

de l’ senprudenta

silento, kiu


vortojn naskas

kaj ŝtonojn pli dolĉajn

ol  flugantaj  papilioj.


Maria Nazaré Laroca

Juiz de Fora, 06/02/2014. 




segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Sem






Sou 
mente
semente
somente.

Só 
mente
se mente.


Se
mente
se
sol.

men
te
só.

Maria Nazaré Laroca

Juiz de Fora, 03/02/2014.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Raviteco






Mirindas trezor’
en la urbocentro
de Florianopol’:
la figarb’ jarcenta,
majstroverko dia.

Majesta vizio
plej sorĉe orkestras
vortan simfonion.

Ĝin dolĉa ŝtonar’
ĉirkaŭronde festas
kaj silente laŭdas...
L’ anim de l’ poet
pro raviĝo ekploras.

Maria Nazaré Laroca
Florianópolis, 29/01/2014.


sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Eternidade _ Eterneco




Eternidade

É falsa da morte a astúcia:
metáfora que flutua
entre palco e camarim.

Ulisses desce aos infernos,
com mortos amados fala
e Hamlet também conversa
com o fantasma do pai.

Morremos em cena assim:
depois de acabada a peça,
levantamo-nos sem pressa
para os aplausos ou vaias.

E então o poeta inquire
(perplexa  filosofia!):
por que temos de morrer
para poder aprender 
que estamos sempre vivos? 

Eterneco

La ruzec’ de l’ mort’ malveras,
metaforo kiu flosas
tra scenej’ kaj  buduar’.

Post la teatraĵo-fin’,
sur la podio mortinte
ni stariĝas malrapide
por l' aplaŭdoj aŭ mokfajfoj...

Odise’ iras Hadesen,
kaj alparolas mortintojn
ankaŭ parolas Hamleto
kun la fantomo de l’ patro.

Demandas do la poet’:
(perpleksa filozofio!)
kial oni devas morti
por ke finfine komprenu
ke ĉiuj ni vivas ĉiam? 

Maria Nazaré Laroca

Juiz de Fora, 17 / 01 /2014.



terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Lua de janeiro / Luno de januaro




Lua de janeiro


Lua cheia de janeiro
se debruça na janela;
e com a prata dos cabelos
na minha cama despeja                 
toda a safira do céu.

Luno de januaro

Plenluno de januaro
sin klinas super fenestron;
kaj per la arĝentaj haroj
sur mian liton elverŝas
la  safiron el  ĉielo.


Maria Nazaré Laroca
Juiz de fora, 14 de januaro 2014.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Hajko









Fiŝe perdita,

Sursable baraktanta

Jen papilio!




Maria Nazaré Laroca

Cabo Frio, RJ, 29/12/2013.