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quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Movimento _ Movimento



Movimento

Três dias chovendo a cântaros, e eu preocupada com o sumiço da primavera.
O vento gelado silenciou os pássaros e o perfume das flores da praça.
Pela vidraça, a cidade diluída em cinza e impaciência.
Três dias embrulhada em poesia, café e jazz. Às vezes aumentava o volume da música para abafar o ronco mal-educado dos trovões.
Mas hoje, precisamente às quatro da tarde, aconteceu um milagre: jogaram uma tinta azul brilhante no céu, e o sorriso ainda molhado do sol resgatou a primavera  que tremia de frio nos porões do inverno.
E então a vida voltou à vida.


  
Movimento

Tri tagojn torente pluvadas, kaj jen mi maltrankvila pro la malapero de printempo.
La glacia vento silentigis la birdojn kaj la parfumon  de la floroj de la placo.
Trans la fenestro, la diluita urbo grizas kaj malpaciencas.
Tri tagojn volvita en poezio, kafo kaj ĵazo. Kelkfoje mi plialtigis la sonon de la muziko por dampi la malĝentilajn tondromuĝojn.
Sed hodiaŭ, precize je la kvara horo posttagmeze, miraklo okazis: oni ĵetis brilan bluan farbon sur la ĉielon, kaj la ankoraŭ malseka rideto de la suno liberigis printempon, kiu tremis de frosto en vintra kelo.
Kaj tiam la vivo revenis al vivo.

Maria Nazaré Laroca
Juiz de Fora, 05/10/2016

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Tormento _ Turmento



Tormento

Da fonte latina invidia -
ver errado, a inveja
é cega pelo cultivo
da  falta de autoamor.

O invejoso odeia
a felicidade alheia;
o seu olhar naufraga
nos frios labirintos
de si mesmo.

Na Divina Comédia
e na tragédia da vida,
ao  invejoso o martírio
dos olhos costurados:
não poder ver a luz.

  
Turmento

El latina fonto: invidia -
mise vidi - envio
blindas pro kultivo
de manko de memamo.

Enviulo malamas
alies feliĉon;
lia rigardo dronas
en siaj malvarmaj
labirintoj mem.

En la Dia Komedio
kaj ĉe l’  tragedio de l’ vivo
al enviulo la martiriĝo
pro kudritaj okuloj:
ili ne rajtas vidi lumon.

Maria Nazaré Laroca

Juiz de fora, 29/09/2016.

sábado, 17 de setembro de 2016

Joia rara






A Domingos Montagner

O retrato falado de um homem de bem se agiganta e aprimora-se a cada homenagem dos amigos e colegas de trabalho: alegria de viver, entusiasmo, simplicidade, generosidade, doçura, gentileza, integridade de alma, coragem...
Admirável seu último gesto quixotesco ao poupar a dama que desesperadamente tentava resgatá-lo dos braços do velho Chico...
Reaprendi com você, Domingos Montagner, que não importam os títulos e honrarias que inflam o ego e provocam admiração invejosa... O que importa é o sentimento: o amor que você plantou na memória do coração das pessoas.

Que brilhe sua luz nos picadeiros do Céu! 


Maria Nazaré Laroca
Juiz de Fora, 17/09/2016.
                                                                                               




sábado, 10 de setembro de 2016

Acalanto _ Lulkanto




Acalanto

Pai nosso, e não apenas meu,
em que  tesouro incerto
ficou meu coração, Senhor?
- Reclama a alma inquieta.

Cega fonte de luz e trevas,
não aprendi a florescer
no  jardim do Teu amor.

Mas graças a Ti,  Senhor
da vida, descobri agora  
a Tua esperança silenciosa.


Lulkanto

Patro nia, ne nur mia,
en  kiu trezor’ necerta
mia kor’ restis,  Sinjor’?
- Maltrankvila anim’ plendas.

Blinda fonto de lum’ kaj tenebr’,
mi ne lernis flornaskiĝi
en la ĝarden’ de amo Via.

Sed danke al Vi, Sinjoro
de l’ vivo, mi nun eltrovis  
Vian silentan esperon.

Maria Nazaré Laroca
Juiz de Fora, 10/09/2016.



                   

domingo, 4 de setembro de 2016

Exposição _ Ekspozicio



  

Exposição


O perfume silencioso
das orquídeas, joias
expostas, faz vibrar
a melodia do hálito
divino que nos move.


Ekspozicio

La silenta parfumo
de l’ orkideoj,
montrataj juveloj,
vibrigas la melodion
de la dia spiro,  
kiu nin movas.

Maria Nazaré Laroca
Juiz de Fora, 04/09/2016.


sábado, 27 de agosto de 2016

Pretensão _ Pretendo




Pretensão

Tem poemas rebeldes,  
sem-teto e sem-poesia,  
que se manifestam destemidos,  
nas redes pós-modernas,  
desprezando ritmos e rimas
e óbvias lexias.

Também há os que respiram
lágrimas de um passado
tempo, a viver morto
em presente fugidio.

Muitos outros  atordoam
indefesas palavras
no picadeiro sem medo
de acrobacias loucas.

Nesse tonel de sentidos,
aprendiz que sou, me perco,
a esperar que meus ingênuos versos
sejam sementes de paz, ao menos,
na terra inquieta da alma
de quem os ler um dia.



Pretendo

Estas ribelemaj poemoj,
senhejmaj, senpoeziaj,
kiuj sentime manifestacias,
ĉe postmodernaj retoj,
malestimante ritmojn kaj rimojn
kaj vortojn evidentajn.

Ankaŭ estas tiuj, kiuj spiras
larme pro estinta
tempo, kiu mortvivas
tra pasema nuno.

Multaj aliaj konfuzas
sendefendajn vortojn
ĉe l’ areno sentima
de kaprioloj frenezaj.

En tia barel’ da sencoj,
mi ĉion lernas kaj perdiĝas
esperante, ke miaj versoj naivaj
estos pacaj semoj almenaŭ
sur la malkvieta grund’ de l’ anim’
de miaj legontoj iamaj.

Maria Nazaré Laroca

Juiz de Fora, 28/08/2016

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Transeunte _ Piediranto



Transeunte

Invisível na multidão,
o olhar vagabundo do poeta
tropeça nos sonhos e segredos
dos rostos que por ele passam.

No meio da turba, não se turba;
recortando angústias e quimeras
para nutrir-lhe os versos imperfeitos.

Mas, cúmplice de Deus,
prossegue o poeta na certeza
de que cada um que passa
é um mundo que orbita 
a Sua luz, e não sabe.            
                                                                          

Piediranto

Nevidebla en homamaso,
la vagabonda rigard’ de l’ poeto
stumblas ĉe revoj kaj sekretoj
de preterpasantaj vizaĝoj.

Meze de l’amaso, li ne tristas;
angorojn tranĉante kaj ĥimerojn
por nutri siajn versojn neperfektajn.

Sed komplico de Dio,
persistas la poeto tutcerta,
ke ĉiu preterpasanto
estas mondo, kiu Lian lumon
orbitas, kaj ne scias.

Maria Nazaré Laroca
Juiz de Fora, 24/08/2016.