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domingo, 16 de março de 2014

Mudanças _ Ŝanĝoj



Mudanças

Em poucas horas,
desmontamos
um pequeno 
apartamento.

Empacotamos tudo:
sonhos, dores, momentos
de riso e amargura.

As mudanças
são o fio do tecido
da vida.

Mas, rumo às estrelas,
eis o desafio:
desfazer os nós 
dos porões cegos
de nós mesmos.


Ŝanĝoj 

Dum kelkaj horoj
etan apartamento
ni malmuntas.

Ni ĉion enpakas:
revojn, dolorojn
kaj momentojn
el rido kaj ĉagreno.

Shanĝoj  estas
la fadenoj
de l' teksaĵo
de l' vivo.

Sed, survoje al steloj,
jen nia defio:
malnodi
la blindajn keloj
en ni mem.

Maria Nazaré Laroca
San-Paŭlo, 16/03/2014.




quinta-feira, 13 de março de 2014

Mercearia da Mercedes





Que laços enlaçam o deus romano Mercúrio, o mercado e você?

Saio da teia prática da sincronia lexical e mergulho no misterioso túnel diacrônico cavado pela Filologia. A viagem surpreende a cada curva semântica. Primeiro encontro o céu do latim merere (merecer) e quase ouço um canto gregoriano ao fundo...

Não sei se tenho mérito para merecer este encanto, mas o fato é que a raiz mer(c) se destaca como uma borboleta sem cerimônia e convida-me a conhecer um pouco da família cognata. E, apressando-se, ela se une ao prefixo com- e então se projetam, no cenário da memória, imagens de comércio, comerciante, comercial, mercado, mercearia, mercador... campo semântico regido por Mercúrio, deus do comércio e da comunicação. 

E eis que, gentil, surge Mercedes, nobre nome que não fica à mercê dos mercenários que pululam na arena da mediocridade mercantil. Então lhe agradeço num galanteio francês: merci, Mercedes!

Agora pergunto ao meu eventual leitor: e vossa mercê? Perdão, e vosmecê, e você? 

Você sou eu, somos nós. Precisamos desse intercâmbio civilizatório. O espírito merece uma boa merenda recheada de cultura e arte. Afinal somos todos Mercedes.

Maria Nazaré Laroca


Guarulhos, 13/03/2014.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Num café _ Ĉe kafejo








Cada pessoa é uma ilha 


de solidão inacabada;

e a rua é um rio de ruídos

que atropelam os ossos do dia...

Busco refúgio num café

elegante da minha cidade.



Lá violinos me recebem 

com ternura e seduzem

um tango em doce fúria; 

então desdobro um papel 

que a poesia queima,

para gravar este poema.



Ĉe kafejo

Ĉiu persono estas insul’
el nefinita soleco;
kaj  strat’  estas river’ de l’ bruo
kiu ruze batpuŝas
la ostojn de l’ tago ...
Mi serĉas rifuĝon en kafejo
eleganta de mia urbo.

Tie tenere akceptas min violonoj
kaj allogas tangon
per dolĉa furiozec’;
tiam disfaldas mi paperon,
kiun poezi’ bruligas,
por skribi ĉi poemon.



Maria Nazaré Laroca

Juiz de Fora, 08/03/2014.








segunda-feira, 3 de março de 2014

Blandícia



                                                    Para Camilo
                                                                              Artífice do Amor, 
nos mistérios da vida,
o frio cinzel da Dor
esculpe a Felicidade 
da alma ‘inda adormecida 
na mente do Criador. 
                                              
Maria Nazaré Laroca

Juiz de Fora, 03/03/2014.


sábado, 22 de fevereiro de 2014

Um outro olhar _ Alia rigardo





Um outro olhar

Como num balé contemporâneo.  Nesta manhã de sábado, um pedreiro desfaz um grande monte de areia, levando a pá à betoneira  repetidas mil vezes... Concentração  quase irreal. Em compaixão solidária, pensei: tanto trabalho ... e comentei com o motorista do ônibus em que estava.
E ele: nada... é assim mesmo... a gente se acostuma com trabalho duro. Até terça não se verá nem um grão de areia...
E o meu olhar afobado pensava que o jovem  tinha de dar conta de tudo apenas nesta manhã de sábado... 
Muitas vezes o ponto de vista do outro abre uma janela em nossa alma.

Alia rigardo

Kiel ĉe nuntempa baleto. En ĉi tiu sabata mateno, masonisto  malfaradis grandan monton  da sablo rekondukante milfoje al la beton-miksilo  la ŝovelilon per koncentriĝo preskaŭ nereala. Mi solidare kompatis: tiom da laboro ...  mi pensis kaj tuj tion diris al la ŝoforo de l’ buso, kie mi estis.
Kaj li respondis: tio estas nenio ... ĉiukaze ni kutimiĝas al la harda laboro. Ĝis la venonta mardo oni ne vidos eĉ sableron ... 
Kaj mia hasta rigardo pensadis, ke la junulo devas plenumi  la tutan aferon nur ĉimatenan sabaton ... 
Multfoje alies vidpunkto malfermas fenestron en nia animo.


Maria Nazaré Laroca
Juiz de Fora, 22/02/2014.


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Desejo




Falta da infância
e da mocidade
que nunca vivi.

Falta do perfume
dos crepúsculos,
e do leite que escorre
dos seios da lua,
e que nunca bebi.

Falta do grito
das auroras
sem pudores.

Falta da falta
que faz falta.
Falta assim:
falta de mim.

Maria Nazaré Laroca
Juiz de Fora, 20/02/2014.






sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Lua de verão _ Somera luno





Lua de verão

A lua desabrocha
em volúpia de luz
e resplende o seio
maduro à mostra,
na seda dos anseios
e silentes desejos.




Somera luno

La luno ekfloras
per volupta lumo
kaj  la mam’ trembrilas
je montro matura 
en aspiraj  silkoj
kaj mutaj deziroj.

Maria Nazaré Laroca
Juiz de Fora, 14/02/2014.