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domingo, 6 de novembro de 2016

Perda _ Perdo



Perda

Houve um tempo
em que eu queria
silenciar todas as flores,
desligar os passarinhos, 
recolher o arco-íris, 
apagar o sol 
e enrolar o dia
como um tapete gasto.

           (1999)


Maria Nazaré Laroca

In: Poemas sem endereço. Juiz de Fora, MG. 2000.




Perdo


Estis tempo, 


kiam mi volis 


silentigi ĉiujn florojn, 

elŝalti la birdojn, 

kolekti la ĉielarkon, 

forviŝi la sunon, 

kaj volvi la tagon, 

kiel tapiŝon eluzitan.



Juiz de Fora, 06/11/2016.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

O lenheiro _ La lignovendisto



O lenheiro


O lenheiro do meu bairro
era um gigante negro
de pura emoção e músculos.

Invadia a minha rua
com o cheiro bruto da lenha
que trazia nas costas
como um brinquedo.

Nos olhos da meninada
um prazer esquisito,
ao vê-lo passar inteiro
como um deus africano.

Eta, lenheiro, amigo,
que  trago guardado
no fundo da minha infância!
A sua ingenuidade
até hoje me comove!


Maria Nazaré Laroca In: Sem cerimônia (Poesia). Juiz de Fora, MG. 1985. / 2ª edição 2000.


La lignovendisto  

La lignovendisto  de mia kvartalo
estis giganto nigra
el pura emoci’ kaj muskoloj.

Li invadis mian straton
per kruda odoro de l’ ligno,
kiun li alportis dorse
kiel ludilon.

En la okuloj de l’ knabaro
stranga plezuro, tiam
kiam li marŝis impone
kiel afrika dio.

Ha, lignovendisto, amiko,
kiun mi gardas
en la fono de mia infanaĝo!
Min kortuŝas via naivo
ĝis hodiaŭ!


Juiz de Fora, 02/11/2016.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Lua do Leblon _ Luno de Leblono



Lua do Leblon


Muitas luas já vivi ...

Lua barroca de Minas,

hóstia de luz elevada

sobre o silêncio beato

dos telhados das igrejas

de Ouro Preto e Mariana ...


E a lua fria de Manhattan

vai pingando solidão

nos braços da Liberdade ...


Mas essa lua vermelha

que contemplo de joelhos

do Mirante do Leblon:


lua vestida de ouro,

nua, despida em fogo,

paixão suspensa, fetiche ...


Essa lua equilibrista,

balão chinês que enfeitiça,

é como um orgasmo do sol:

incêndio num mar dourado!

Maria Nazaré de C. Laroca

(IN: Travessia do Poema. Juiz de Fora: FUNALFA; Campinas: Pontes Editores. 2012, p. 47.)


Luno de Leblono

Multajn lunojn mi travivis...
Baroka luno ĉe Minoj,
levita hostio  luma
super la silento pia
de l’ tegmentoj de l’ preĝejoj
en Ouro Preto, Mariana ...

Kaj  frida  luno de Manhatan
solecon estas verŝanta  
sur  brakojn de l’ Libereco ...

Sed ĉi tiu ruĝa luno, kiun,   
de l’ Leblono Belvidejo,
mi kontemplas surgenue:
 
luno per oro kovrita,
nuda, tutnuda fajre,
levita pasio, fetiĉo...

Tia luno, ekvilibristo,
ĉina balono sorĉanta,
estas, kiel sunorgasmo:
fajro sur ora maro!

Maria Nazaré Laroca
Poemo tradukita la 17-an de Oktobro 2016.
Juiz de Fora – Minoj - Brazilo

sábado, 15 de outubro de 2016

Requinte _ Fajneco





Requinte

Rósea plumagem
cintila na praça;
penugem da primavera:
ímpar delicadeza
do divino Pintor.


Fajneco

Rozkolora plumaro
trembrilas sur la placo;
plumiĝas printempo:
fajna delikateco
de dia Pentristo.

Maria Nazaré Laroca

Juiz de fora, 15/10/2016.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Adeus, Zequinha!



A José Furtado Pereira
In memoriam

O Poeta Zequinha, tão douto e tão simples, morava no sítio Shangri-la, em Guarani.

Nas nossas reuniões da AJL, eu lhe dizia sempre, quero ir lá, um dia, conhecer o seu paraíso particular... E o amigo sorria hospitaleiro... 
Mas o tempo engoliu os nossos dias... E o Poeta foi embora, para viver para sempre na Shangri-la do Céu... 
Lá, o nosso querido amigo vai continuar o ofício de declamar poemas com alegre sabedoria! E a turma que já se foi recebe-o agora com aplausos de saudade. São Pedro também gosta de poesia!

Vamos sentir sua falta, Zequinha!

Maria Nazaré Laroca 

Juiz de Fora, 12/10/2016.

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quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Movimento _ Movimento



Movimento

Três dias chovendo a cântaros, e eu preocupada com o sumiço da primavera.
O vento gelado silenciou os pássaros e o perfume das flores da praça.
Pela vidraça, a cidade diluída em cinza e impaciência.
Três dias embrulhada em poesia, café e jazz. Às vezes aumentava o volume da música para abafar o ronco mal-educado dos trovões.
Mas hoje, precisamente às quatro da tarde, aconteceu um milagre: jogaram uma tinta azul brilhante no céu, e o sorriso ainda molhado do sol resgatou a primavera  que tremia de frio nos porões do inverno.
E então a vida voltou à vida.


  
Movimento

Tri tagojn torente pluvadas, kaj jen mi maltrankvila pro la malapero de printempo.
La glacia vento silentigis la birdojn kaj la parfumon  de la floroj de la placo.
Trans la fenestro, la diluita urbo grizas kaj malpaciencas.
Tri tagojn volvita en poezio, kafo kaj ĵazo. Kelkfoje mi plialtigis la sonon de la muziko por dampi la malĝentilajn tondromuĝojn.
Sed hodiaŭ, precize je la kvara horo posttagmeze, miraklo okazis: oni ĵetis brilan bluan farbon sur la ĉielon, kaj la ankoraŭ malseka rideto de la suno liberigis printempon, kiu tremis de frosto en vintra kelo.
Kaj tiam la vivo revenis al vivo.

Maria Nazaré Laroca
Juiz de Fora, 05/10/2016

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Tormento _ Turmento



Tormento

Da fonte latina invidia -
ver errado, a inveja
é cega pelo cultivo
da  falta de autoamor.

O invejoso odeia
a felicidade alheia;
o seu olhar naufraga
nos frios labirintos
de si mesmo.

Na Divina Comédia
e na tragédia da vida,
ao  invejoso o martírio
dos olhos costurados:
não poder ver a luz.

  
Turmento

El latina fonto: invidia -
mise vidi - envio
blindas pro kultivo
de manko de memamo.

Enviulo malamas
alies feliĉon;
lia rigardo dronas
en siaj malvarmaj
labirintoj mem.

En la Dia Komedio
kaj ĉe l’  tragedio de l’ vivo
al enviulo la martiriĝo
pro kudritaj okuloj:
ili ne rajtas vidi lumon.

Maria Nazaré Laroca

Juiz de fora, 29/09/2016.