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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A morte da espatódea





Spathodea campanulata, seu nome científico. Tulipeira, bisnagueira, árvore de tulipas... Da África Central aos jardins públicos do Brasil, daí também o nome tulipeiro-da-áfrica.
Uma árvore carnavalesca. Ornamental, imponente. Nota dez no quesito adereço: de um alaranjado gritante e divertido.
As suas flores chamadas bisnaguinhas fazem a alegria das crianças, pois permitem esguichar o néctar qual uma arma de brinquedo. Dizem que tal líquido é uma substância alucinógena, nociva a pássaros e abelhas... mas não pesquisei o assunto.
Hoje de manhã, a rua em frente à praça estava interditada como em um acidente de trânsito. Horrorizada, vi os despojos da árvore assassinada; tudo devidamente cercado por uma faixa da prefeitura. O tronco decepado ficou lá em silêncio incompreendido, ao lado de uma exuberante amendoeira que fingia não perceber nada.
O chão estava coberto de tulipas como um tapete de atrevida alegria.



Maria Nazaré de C. Laroca
Juiz de Fora, 1º de fevereiro de 2013

5 comentários:

André Luiz Vianna disse...

Triste notícia, Nazaré. Vale a pena protestar.

Blogdopaulo disse...

Que tristeza!
Que vítima indefeza, que cruel carrasco!

Josenilton kaj Madragoa disse...

Essa minicrônica é um profundo e eloquente necrológio para uma pessoa vegetal que se vitimou da ação criminosa de uma pessoa administrativa, que se arroga de pessoa pública dona de todos os patrimônios que mal-administra, quando na verdade todo patrimônio natural é do povo, que, nesse caso, também é vítima, porque vai perder a beleza e a fragrância dessa espatódea, e também é algoz objetiva, porque colocou para administrar suas coisas uma corja de insensíveis vegetocidas, ou, mais especificamente, espatodecidas.
Ainda que eventualmente não se baseie em um fato real, seu texto representa o protesto em relação aos assassinatos em série que são cometidos diuturnamente contra a natureza Brasil afora, quer pelos órgãos administrativos oficiais, quer pelas pessoas empresariais plutocratas e lucrólatras! Sua minicrônica é também uma denúncia geral, amiga!

Paulo P Nascentes disse...

Mais gritante que o alaranjado da espatódea, porém nada divertido, tão atrevido como o tapete de tulipas cobrindo o chão, porém despido de alegria, o crime contra a natureza banaliza-se, reveste-se de carimbos oficiais em absurdos atos administrativos. Agudamente verossímil, à minicrônica, como à boa literatura, pouco importa o chamado fato real. O desassossego persiste, como diria Fernando Pessoa.

Unknown disse...

Essa árvores fez parte da minha infância