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sexta-feira, 9 de julho de 2021

CORAGEM _ KURAĜO



CORAGEM


Amanhã cedo farei nova cirurgia para retirada de um torturante parafuso 

dentro dos ossos do ombro direito. 

Vou atravessar meu Rubicão de dor. 

Alea jacta est !


KURAĜO

Morgaŭ frumatene mi submetiĝos al nova kirurgio por ke oni forigu

turmentan  ŝraŭbon ene de ostoj de l' dekstra ŝultro.

Mi transiros mian Rubikonon el doloro.

Alea jacta est !


Maria Nazaré Laroca 

Juiz de Fora, 09/07/2021.

Brazilo






quinta-feira, 10 de junho de 2021

Orvalho _ Roso


Orvalho

Ontem, sob uma tempestade de dor, dormi e sonhei que era menina, no sítio do meu tio Antenor, que me encantava com sua sabedoria tão natural como a terra que cultivava. E ele me ensinava a ver e a amar a beleza das coisas simples, dizendo com doçura:

- Nada é mais belo do que uma gota de orvalho numa folha de taioba.

Diamante líquido, penso agora.

Hoje a dor não acordou comigo.


Roso

Hieraŭ, sub tempesto da doloro, mi ekdormis, kaj sonĝis, ke mi estas knabino, en la bieno de mia onklo Antenor, kiu sorĉis min per sia saĝo tiel natura, kiel la tero, kiun li kultivis. Kaj li instruis min vidi kaj ami la belecon de simplaj aferoj, mildkore dirante:

- Nenio estas pli bela ol guto da roso sur ksantosoma folio.

Likva diamanto, nun mi ekpensas.

Hodiaŭ la doloro ne vekiĝis kun mi.  


Maria Nazaré Laroca

Juiz de Fora, 10/06/2021.
Brazilo


sábado, 29 de maio de 2021

Luta _ Lukto


 

É preciso amar, eu sei,

mas não é fácil porque

o Amor tem muitas arestas

que a Dor tem que aplainar:

espinhos de rosa em pétalas

de sonhos a perfumar

o caminho ascensional

da plena felicidade.



Lukto


Ami necesas, mi scias,

sed  facila tio ne estas,

ĉar Amo eĝojn posedas

kiujn Dolor' devas forigi:

dornojn de petalaj rozoj

el  revoj, kiuj parfumas

la vivvojon ascendantan 

de l'  tute plena feliĉo.


Maria Nazaré Laroca
Juiz de Fora, 29/05/2021.
Brazilo








sábado, 15 de maio de 2021

Poema para Suely Schubert

 


Ouvindo Schubert agora,

“Piano trio”, um e dois,

no meu quarto em Juiz de Fora, 

lembrei-me que você se foi

neste maio congelado,

e senti muita saudade!


Ah, Suely, como eu queria 

compor uma sinfonia 

para falar de você 

só um pouquinho dessa vez!

Porque meu poema é pobre 

para espelhar sua luz,

tecida de amor e obras

a serviço de Jesus.


Sei que prossegue com o lema:

“Ama, trabalha, espera, perdoa”,

pois seu voo é ascensional...

Mas agora é tempo de festa:

sorva a taça da alegria 

com seus Amigos no Céu!


Maria Nazaré Laroca

Juiz de Fora, 15/05/2021.



quinta-feira, 8 de abril de 2021

Odisseu na Pauliceia; julho de 2012.

 


Odisseu na Pauliceia; julho de 2012

Há dez anos, Odisseu Ulisses perambula pelas ruas de São Paulo. Seu retorno ao paraíso natal, na Bahia de todos os santos e deuses, é cada vez mais improvável. Itacaré foi a cidade que abandonara sob a fúria dos orixás; exceto a de Iemanjá - mãe de todas as forças da natureza, rainha das águas salgadas – sua deusa protetora.

Odisseu é também filho de Obaluaê: oba (rei) - oluwô (senhor) - ayiê (terra), isto é, “rei, senhor da Terra”. Este é o caçador, lutador, que foi criado por Iemanjá. Daí a relação de carinho entre o guerreiro Odisseu Ulisses e Iemanjá: Divindade de olhos glaucos como as ondas do mar de sua terra.

Odisseu Ulisses da Silva. Poeta sem idade, professor de literatura, que prefere ser chamado só de Ulisses pelos frequentadores de um bar da Rua Augusta, onde faz um extra como garçom, na noite paulistana. Olhar perdido, afável de gestos e palavras, cabelos desarrumados sobre um sorriso que ilumina o rosto barbudo.

Era poeta, no entanto, jamais conseguira publicar seu livro de poesia, grosso caderno que carregava na mochila para rabiscar versos dentro do metrô. Lá dentro, o mundo se resumia a uma avalanche de pernas e mãos e olhos cravados nas telinhas dos celulares.

Ele era mais um invisível na multidão enlouquecida. Por isso preferia as imagens das palavras que criava ao sabor de sua vontade. Prazer inenarrável de degustá-las, ah...fazia amor com as palavras...Tinha orgasmos metafóricos. Beijava a semântica de lábios, sem cobrança; acariciava o significante seios oferecidos, em volúpia lexical. E gestava poemas suburbanos em secreta alegria.

Gostava de reler os versos de Nietszsche sobre a felicidade. Não acredito no eterno retorno, assobiava quase feliz:

“Desde que me cansei de procurar, aprendi a encontrar; desde que o vento começou a soprar-me na face, velejo com todos os ventos.”

Um dia, Ulisses sonhou com a mãe. Ela o acusava de tê-la abandonado; morrera de saudade e tristeza. Os dois caminharam em silêncio por veredas sombrias e vales pavimentados de lama, naquela espécie de purgatório. Ulisses acordou tarde de manhã, com o sol lambendo-lhe os olhos e o coração; chorava de remorso e culpa.

Era culpa de Obaluaê, que orquestrava seu cotidiano; regente de suas dores. Nesse dia, andou   lembrar-se da juventude, do tempo quando também descera ao Hades dos porões da ditadura, quando fora preso e torturado por fazer parte de um grupo literário de esquerda: ele e os companheiros reverenciavam o filósofo húngaro Georg LuKács e estudavam o seu livro Introdução a uma estética marxista como a uma bíblia. Quanta discussão amiga em torno dos conceitos de arte, política e literatura, naquelas tardes cinzentas! Tudo devidamente incensado pela fumaça do elegante cachimbo do líder do grupo.

E o guerreiro Ulisses viajou submerso na clandestinidade. Voltavam-lhe as imagens em ondas negras a perseguirem seus passos: dos tempos de movimento estudantil no Rio de Janeiro, da passeata do Calabouço em 68, do assassinato daquele estudante, o Edson Luís... Como um filme, um carnaval em cascata fazia jorrar em mesclas o vivido, o transvivido e o imaginado: O Festival de Woodstock, a contracultura, a guerra do Vietnam, o tropicalismo, a bossa nova, o cinema novo, o irreverente jornal O Pasquim de toda semana...

Odisseu Ulisses tivera algumas uniões estáveis. E até um filho ele deixou em Itacaré, e a ele dera o nome de Telêmaco, mas nunca mais voltou lá para visitá-lo.

Seu pensamento dançava em torno de um nome musical: Helena, a musa impossível de sua poesia. Conheceram-se numa oficina literária na PUC. Ela sorriu para ele; trocaram palavras, e carícias e o mundo ganhou outra cor depois desse encontro. Mas um dia Helena ganhou uma bolsa de estudos e foi embora para Paris fazer pós-graduação em Semiótica. E então instaurou-se para ele o signo do vazio pleno de saudade.

Atualmente passava tardes inteiras em livrarias burguesas, dialogando com a poesia e a filosofia. Mas os livros ele só comprava nos sebos, claro! Vivia embriagado de leitura para poder suportar o tédio de enfrentar os bêbados das baladas paulistanas.

Mas Ulisses era filho de Obaluaê, a força da natureza que provoca doenças, se bem que também cura, por compaixão e misericórdia. E Odisseu Ulisses começou a delirar de tanta febre e desejo de compreender o seu estar-no-mundo. Com dificuldade, ele conseguiu subir a Rua Augusta e chegar à Av. Paulista. No cruzamento, não viu nada além do mar de Itacaré que inundava tudo. E um barco grego que se aproximava trazendo todos os seus heróis. No leme, Palas Atena disfarçada em Iemanjá. Ela, a amada deusa de olhos glaucos, aproximou-se, tomou-lhe as mãos, conduzindo-o até a embarcação.

E, pouco a pouco o barco se fez balão de sonho, foi subindo ao infinito, navegando na esteira do arco-íris até a estrela da utopia. Itacaré então se tornou Pasárgada.

 Maria Nazaré Laroca

 Juiz de Fora, 08/04/2021.


sexta-feira, 2 de abril de 2021

Reflexões na Sexta-feira Santa _ Primeditoj en la Sankta Vendredo

 


Reflexões na Sexta-feira Santa

 

Nesta Sexta-feira Santa, meu pensamento silencia em gratidão a Jesus, o Mestre divino.

Durante três anos vivenciou Sua Aula Magna.

Ofertou a lição, a merenda e o dever de casa.

Deixou-nos a prova nossa de cada dia:

“amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.

Difícil equação, esse amor sem medida.

É preciso aprender a amar.

Quem aprende, compreende, ama.

Só quem ama, compreende.

Já temos todo o material pedagógico:

O método: eu sou o caminho.

O esclarecimento: eu sou a verdade.

O alimento: eu sou o pão da vida.

O amor: eu sou a luz do mundo.

A imortalidade: eu sou a ressurreição e a vida.

Ninguém vem ao Pai senão por mim.

E nós ainda não conseguimos passar de ano na escola da vida.

 

Primeditoj en la Sankta Vendredo

 

En ĉi tiu Sankta Vendredo, mia penso silentas dankeme al Jesuo, la dia Majstro.

Dum tri jaroj li travivis Sian Majstran Klason.

Li proponis  instruadon, nutraĵon kaj hejmtaskon.

Li lasis al ni la ĉiutagan teston:

"Vi amu unu la alian kiel Mi amis vin".

Malfacila ekvacio, ĉi tiu senmezura amo.

Ni lernu ami.

Tiu, kiu lernas, komprenas, amas.

Nur tiuj, kiuj amas, komprenas.

Ni jam havas la tutan pedagogian materialon:

La metodon: Mi estas la vojo.

La klarigon: Mi estas la vero.

La manĝaĵon: Mi estas la pano de vivo.

Amon: Mi estas la lumo de la mondo.

Senmortecon: Mi estas la reviviĝo kaj la vivo.

Neniu venas al la Patro krom per mi.

Kaj ni ankoraŭ ne sukcesis trapasi la teston en la vivlernejo.

 

Maria Nazaré Laroca

Juiz de Fora, 02/04/2021.

Brazilo


domingo, 28 de março de 2021

Domingo de Ramos _ Palmfesto

 

Jean-Leon Gerome (1897)


Domingo de Ramos


                  E, quando ia chegando, vendo a cidade, chorou sobre ela. (Lucas 19:41)


Chegando a Jerusalém,

ao avistar a cidade,

por ela chorou Jesus

e chorou também por nós,

pela multidão em trevas

de falso triunfo e glória,

para condená-Lo em breve

à ignomínia da Cruz.


Palmfesto


Kaj kiam li alproksimiĝis, li rigardis la urbon, kaj ploris pro ĝi. (Sankta Luko 19:41)


Veninte Jerusalemon,

ekvidante la urbon,

pro ĝi ploras Jesuo,

kaj pri ni ankaŭ Li ploras,

pro la blinda homamaso,

je falsa triumfa gloro,

kiu Lin baldaŭ kondamnos  

al Krucumo malhonora.  


Maria Nazaré Laroca

Juiz de fora, 28/03/2021.

Brazilo